
Instalações elétricas antigas colocam condomínios em risco
Quando foi a última vez que seu condomínio fez uma inspeção elétrica? Se você não se lembra, é provável que esteja correndo um risco invisível. Como todas as estruturas de um imóvel, as instalações elétricas sofrem um processo de envelhecimento natural, que pode ser mais acelerado se não for dada a elas a atenção necessária, principalmente por meio de vistorias periódicas e manutenção preventiva. A falta de cuidado necessário pode impactar diretamente a segurança e o bem-estar dos moradores.
Segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), incêndios causados por sobrecargas ou curtos-circuitos representam metade dos acidentes elétricos em residências registrados no país. Aqui no Rio de Janeiro, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros, foram 3.062 incêndios em edificações residenciais e comerciais nos primeiros quatro meses de 2025. As principais causas apontadas para esses incidentes incluem falhas na manutenção elétrica, sobrecarga de instalações, uso inadequado de equipamentos e negligência com dispositivos de segurança.
Em fevereiro de 2025, um incêndio de grandes proporções em uma confecção de camisas no bairro de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro, causou a morte de um funcionário. Outras 21 pessoas tiveram que ser resgatadas do prédio pelos bombeiros. Policiais civis encontraram ligações clandestinas de energia e um sistema elétrico defasado. As investigações apontam que estas podem ter sido as causas do início do incêndio.
Em março, houve registro de incêndio em dois apartamentos em condomínios distintos no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste. Um dos casos foi provocado por um ventilador. Mas antes de chegar a esse ponto extremo, o sistema elétrico costuma dar sinais quando não está em pleno funcionamento, como piscada na luz, disjuntores que desarmam com frequência, aquecimento em tomadas e até cheiro de queimado.
Especialistas advertem para os cuidados a serem tomados para que isso não aconteça. Fernando Timótheo é dono da empresa Master Power Soluções Elétricas, especializada em PC de luz, que é o ponto de onde se distribui a carga para as unidades e áreas comuns, sendo crucial para a segurança elétrica. Segundo Fernando, “quando o prédio dá sinal, significa que o problema já aconteceu. O que o síndico tem que fazer é descobrir antes, e isso só é possível se for feito um plano de manutenção periódica na inspeção das instalações elétricas por um profissional capacitado de uma empresa especializada”.
O dono da Master Power Soluções Elétricas ainda destaca que, mesmo com a autovistoria em dia, é importante que o síndico faça uma vistoria especificamente da parte elétrica. “Geralmente, quem faz a autovistoria não é um profissional de elétrica, é um engenheiro ou um arquiteto. Então, na maioria das vezes, eles só sinalizam para o síndico aquilo que está gritante. Quer ver um exemplo? Eu fiz uma obra em um prédio em que a estrutura de madeira do PC de luz estava bonita, envernizada, mas por trás ela estava cheia de cupim, fofinha, fofinha. Um risco para o condomínio.”
Outro problema grave são as gambiarras e conexões inadequadas, muito comuns principalmente em condomínios mais antigos. Profissionais qualificados costumam esbarrar várias vezes em problemas como esses. “Geralmente, é no PC de luz do condomínio que encontramos esses casos. É interessante que essa parte essencial para o fornecimento de energia não seja visitada periodicamente; além disso, muitos síndicos entendem que esse espaço é responsabilidade da concessionária local, e não é. Fomos contatados por um condomínio no qual a proteção geral (entrada principal de energia elétrica) do edifício estava pendurada, e a porta do abrigo não podia ser aberta, pois era a sustentação dos barramentos energizados e da chave-faca, com grave risco de explosão. Tivemos que entrar com um pedido de desligamento de energia emergencial perante a concessionária para desmontar a estrutura deteriorada e implantar o padrão novo em menos de 24 horas”, conta a diretora da Eletro Palma, Renata Rangel.
De acordo com Fernando Timótheo, da Master Power Soluções Elétricas, esses atendimentos emergenciais, além dos riscos, acabam gerando gastos mais altos para o condomínio. “Se a gente chega para fazer um atendimento emergencial, preciso desmobilizar uma equipe onde quer que ela esteja ou alocar colaboradores em jornada extraordinária, frequentemente em horários fora do período comercial, e isso fica mais caro para o condomínio.”
Com áreas comuns que concentram sistemas elétricos complexos – como elevadores, portões automáticos, iluminação, câmeras de segurança e bombas –, os condomínios estão entre os locais mais vulneráveis a falhas quando não há um plano preventivo de inspeção e manutenção elétrica. O advogado Antônio Jorge da Cunha Ferreira é síndico e morador do Condomínio Morada dos Mananciais, na zona oeste do Rio. A área tem seis blocos e um total de 186 apartamentos e ainda conta com salão de festas, piscina e quadra de esportes. Há cerca de cinco anos, o condomínio passou por uma grande reforma elétrica. Inaugurado em 1992, o condomínio estava com o sistema obsoleto.
“Foi exigência da Light. Trocamos todos os quadros elétricos, revisamos a fiação, os disjuntores, os relógios. Nosso quadro ainda era de madeira. Colocamos de ferro com revestimento antichamas. Antes da reforma, toda hora desarmavam disjuntores do quadro principal, por isso o síndico da época chamou uma empresa especializada para fazer a vistoria. O sistema de aterramento também foi atualizado”, explica Antônio.
E agora ele faz todo um trabalho de comunicação com os moradores. “Todo ano, as pessoas podem aumentar a carga de energia do seu apartamento e, com isso, exigir mais do sistema do condomínio. Colocam freezer, ar-condicionado… É necessário que eu saiba se essa fiação do condomínio vai suportar. Toda vez que uma pessoa se muda para o condomínio, peço para informar se vai haver aumento substancial de carga elétrica no apartamento. Em casa, por exemplo, troquei, há dois anos, toda a fiação porque fiz uma reforma para colocar um aparelho de ar-condicionado maior na sala. Tirei os fios rígidos e coloquei fio flexível, que resiste muito mais à carga. É importante discutir com o síndico para que ele aconselhe os moradores. Porque a gente não pode obrigar que eles façam a troca, né? Só conversar mesmo.”
A diretora da Eletro Palma conta que a empresa atende a vários casos de condomínios que têm risco de incêndio por falta de adequação na rede elétrica. “Muitas vezes, os moradores percebem um desarme no disjuntor, chamam profissionais que não são capacitados que simplesmente substituem o disjuntor que estava desarmando por um de amperagem maior. O problema é que esse profissional não calculou a carga/demanda necessária para a unidade e não adequou os cabos conforme o novo disjuntor. Está aí o risco. O cabo vai continuar aquecendo, por causa da sobrecarga, e o novo disjuntor que foi colocado não vai desarmar, então teremos um incêndio. Para identificar esses riscos, o condomínio deve fazer a manutenção preventiva anual, seguida de um relatório técnico com indicação de adequações. Essa manutenção deve ser realizada por empresas especializadas.”
Sérgio Martins, diretor da Serfautec Serviços Elétricos, chama atenção exatamente para isso. “Com o aumento do uso de aparelhos elétricos e a crescente demanda por conforto e tecnologia, muitos imóveis residenciais – especialmente os mais antigos – estão enfrentando uma realidade alarmante: suas instalações elétricas não foram projetadas para suportar as exigências atuais. O que muitos ignoram é que a rede elétrica, como qualquer outro sistema, tem um prazo de validade. Hoje, a demanda elétrica de uma residência é várias vezes maior do que nos anos 1970. Para se ter uma ideia, naquela época, o consumo médio mensal de uma família girava em torno de 170 kWh. Com o avanço da tecnologia, esse número facilmente ultrapassa os 250 kWh/mês.”
Com o avanço da mobilidade elétrica no Brasil, cresce também o número de moradores que utilizam a rede elétrica dos condomínios para carregar carros e bicicletas. O que à primeira vista parece uma escolha sustentável pode, sem o devido planejamento, se tornar uma bomba-relógio. Sérgio, da Serfautec Serviços Elétricos, orienta que a instalação de pontos para carregamento veicular seja feito de forma adequada. “Infelizmente, o que se vê são soluções improvisadas, com moradores puxando fios diretamente dos próprios medidores ou carregando bicicletas dentro dos apartamentos, o que representa um risco severo de acidente. Essa prática pode causar sobrecarga nas instalações internas, superaquecimento e até incêndios. O ideal é que todo sistema de recarga seja compatível com o veículo e com a rede elétrica e tenha sido dimensionado por um profissional capacitado.”
E para isso é necessário que o projeto seja aprovado pela concessionária de energia antes do início da reforma. O dono da Master Power Soluções Elétricas conta que é comum que muitas obras tenham que ser refeitas porque o projeto não foi aprovado pela concessionária. “Algumas empresas mostram o projeto para o síndico, e o síndico acha que está aprovado pela Light e deixa a pessoa trabalhar. Quando vai ver, a Light nem sabe que aquilo ali está acontecendo.”
E na hora de contratar a empresa, a atenção deve ser redobrada. Para o diretor da Serfautec Serviços Elétricos, empresa de referência em modernização de PC de luz, “quando for necessária a ampliação da carga elétrica, o síndico deve contratar uma empresa ou profissional registrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) ou no Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT). Esse profissional será responsável por calcular a nova carga e solicitar à concessionária (como a Light) o aumento oficial de carga, conforme formulário padrão exigido”.
“Verifique a documentação da empresa (certidões negativas de débitos municipais, estaduais e federais e do INSS; certidão de registro da empresa no Crea, com o nome do responsável técnico vinculado ao CNPJ); solicite uma relação de serviços anteriores feitos; consulte a situação fiscal e judicial da empresa: sites, como o da Receita Federal e do Tribunal Superior do Trabalho, ajudam a identificar empresas com pendências; consulte a lista de fabricantes de painéis homologados pela Light em fabricantes validados; pesquise a reputação da empresa em sites como o Reclame Aqui, entre outras providências”, orienta o diretor da Serfautec Serviços Elétricos.
Antônio, além de síndico, é advogado e toma muito cuidado na hora de escolher uma empresa para prestar algum serviço. “A maioria dos condomínios escolhe três propostas. Eu peço cinco. Faço uma pesquisa pelo CNPJ para ver a capacidade financeira da empresa para entender se ela tem condições financeiras para realizar a obra. Senão, você contrata uma empresa qualquer e ela abandona a obra, você vai executar a empresa como? Vai cobrar de quem? Só para dar um exemplo rápido. Vou fazer uma obra aqui no condomínio que deve custar em torno de R$ 1 milhão. Uma empresa me apresentou uma proposta de R$ 330 mil. Já viu que ela não tem capacidade de fazer isso, né? Além disso, fiscalizo se a companhia está com a documentação em ordem, se tem (Equipamento de Proteção Individual (EPI), treinamento técnico… Sou enjoado com essas coisas.”
Nas reformas elétricas em condomínios, o aterramento é uma exigência técnica e de segurança fundamental. Além de ser previsto na norma NBR 5.410, que regula instalações de baixa tensão, o sistema de aterramento protege moradores e estruturas de choques e descargas elétricas, sendo também parte essencial do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA). Segundo Renata Rangel, diretora da Eletro Palma, “o aterramento é um item obrigatório exigido pela concessionária no processo de modernização do PC de luz. É preciso que conste em projeto para aprovação e, depois de implantado, precisa ficar exposto até a vistoria final realizada pela concessionária”. Sem o aterramento adequado, reformas podem ser barradas, apólices de seguro, negadas e o risco de acidentes aumenta significativamente.
Por isso mesmo, durante reformas no sistema elétrico de condomínios, a contratação ou atualização do seguro contra incêndio torna-se uma medida essencial de prevenção e responsabilidade. Isso porque intervenções desse tipo aumentam significativamente o risco de curtos-circuitos, sobrecargas e falhas que podem provocar incêndios. Além disso, o seguro é exigido por lei para edifícios residenciais e pode ser requisitado pelas administradoras ou seguradoras para manter a cobertura válida durante a obra. Em caso de acidentes, a apólice oferece proteção financeira para danos estruturais e prejuízos a terceiros, evitando custos elevados e disputas judiciais. A Cipa oferece esse serviço por meio do Seguro Obrigatório de Condomínio. Mesmo com o seguro, a falta de manutenção elétrica pode comprometer o pagamento da indenização em caso de sinistro. Manutenção preventiva é essencial para garantir a eficácia da cobertura. Isso não apenas reforça a segurança dos moradores, mas também evita possíveis negativas de cobertura por parte da seguradora em caso de sinistros relacionados com falhas elétricas.
Além da manutenção periódica, Antônio afirma que faz a vistoria regular nos equipamentos de incêndio, nos extintores, nos hidrantes e nos alarmes para manter tudo sempre em dia. “Porque o síndico responde com seu patrimônio por má gestão se não tomar os cuidados com a administração e segurança”, explica.
Mais do que uma obrigação legal, cuidar da parte elétrica de um condomínio é uma atitude de responsabilidade coletiva. Reformar, modernizar e inspecionar regularmente essas estruturas é investir na segurança, no bem-estar e na valorização do patrimônio de todos os moradores. Como resume Sérgio Martins, da Serfautec: “A segurança elétrica não é um luxo, mas uma necessidade básica.”
Serviço:
Eletro Palma
eletropalma.com.br
(21) 3100-0057/(21) 3495-8737/(21) 96824-8662/(21) 96468-9227
Master Power
masterpowerse.com.br
(21) 99580-0335
Serfautec
serfautec.com.br
(21) 3018-0037/(21) 96463-2343
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