Infestação por ácaro de pássaros pode ser evitada
Apesar de o nome sugerir, os tais piolhos-de-pombo não são exclusividade dos pombos. Mais de 30 aves são parasitadas por esse ácaro. De acordo com informações fornecidas pelo Instituto Butantan, apesar de ser popularmente conhecido como “piolho-de-pombo”, o ácaro
Os ácaros, parentes próximos dos carrapatos e pertencentes ao mesmo grupo das aranhas e dos escorpiões, compreendem uma vasta diversidade, com mais de 32 mil espécies já descritas pela ciência. No entanto, especialistas estimam que entre meio milhão e um milhão de exemplares ainda aguardam ser identificadas.
Com uma história evolutiva que remonta a mais de 350 milhões de anos atrás, os ácaros iniciaram sua trajetória durante o período Devoniano, quando os primeiros ancestrais dos vertebrados terrestres começaram a colonizar a Terra. Durante esse período, os ácaros evoluíram para se alimentar de sangue, um hábito que persiste até os dias atuais.
Os ácaros passam por cinco fases evolutivas, incluindo o estágio de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto, e as três últimas fases são hematófagas. Os ácaros adultos fêmeas são maiores que os machos, podendo atingir até 1 mm de comprimento, e sua coloração varia de amarelado a vermelho-escuro depois de se alimentarem de sangue.
Tudo muito interessante até aí, o problema mesmo é quando eles infestam as residências e atacam, com suas picadas, os humanos. Isso costuma acontecer, principalmente, em ninhos de aves abandonados em varandas, janelas ou mesmo em vãos de aparelhos de ar-condicionado. Outra possibilidade é quando as pessoas manuseiam aves parasitadas.
O que aconteceu com Paola Borghoff foi que, um belo dia, alguns passarinhos começaram a fazer um ninho no vão do antigo aparelho de ar-condicionado do quarto dela. Depois que o casal instalou o ar do tipo split, o vão foi inutilizado e tornou-se excelente abrigo para pássaros. “Fiquei encantada com a nova vida se formando ali. Acompanhei até os passarinhos começarem a voar. Só que, certo dia, acordei toda me coçando e não sabia o que podia ser. Pensei até que pudesse ser algo relacionado com a qualidade do ar, limpeza do ar-condicionado… Não estava entendendo do que se tratava. E eu continuava me coçando muito. Nem pulgas poderia ser, porque não tenho animais domésticos… Dois dias depois, o faxineiro de meu prédio veio aqui e colocou a cabeça para fora da janela e viu o ninho, que já estava abandonado e, na verdade, era uma montoeira de lixo residual do ninho.”
O faxineiro removeu todo o resíduo e fechou-o bem num saco plástico e explicou para Paola que o que havia acontecido era uma infestação de piolho-de-pombo. “Ele disse que, na terra dele, isso se chama pixilinga e que pode contaminar a casa toda. Eu não acreditei que fosse tão sério assim, achei um exagero, na verdade. Nem meu marido acreditou. Passamos um produto pelo quarto na esperança de sanar o problema. Só que não adiantou. Aí chamamos uma empresa, que fez a aplicação de uma espécie de fumaça para eliminar o tal piolho. Também não adiantou. Contratamos uma segunda espécie de dedetização, que pulverizou o ambiente com um produto e praticamente resolveu. O que não teve jeito foram meu colchão e os travesseiros. Tive que trocar tudo.”
Porém, a novela continuou. “Mesmo depois de toda essa saga, eu continuava me coçando, e, o mais esquisito, meu marido não. Foi quando nos demos conta de que meu armário de roupas ficava em nosso quarto de dormir. E o dele ficava no andar superior do apartamento. Tive que esvaziar meu armário, lavar e passar todas as roupas. Isso sem falar nas peças que só podem ser lavadas a seco e tiveram que ir para a lavanderia para serem higienizadas.”
Isso é o que podemos chamar de verdadeira saga para se livrar de uma infestação. E os prejuízos não pararam por aí. Paola teve despesas com médico especializado para ajudar com o intenso processo alérgico, remédios e hotel durante as dedetizações. “As picadas provocam algo desesperador, que quase enlouquece. A gente não consegue entender de cara o que está acontecendo porque, a olho nu, não se vê o tal ácaro. A não ser que estejam muitos juntos, aí, sim, se tornam visíveis”, alerta.
Nem todas as empresas de dedetização abordam a infestação por piolho-de-pombo, e os tratamentos caseiros não resolvem o problema. O ideal é não incentivar ninhos em janelas e varandas e, em caso de ocorrência do ácaro, o indicado é procurar ajuda profissional o quanto antes.
Pombos e seu controle populacional
A advogada Camila Prado explica que o pombo é uma ave da família Columbidae, muito comum nas cidades. Trata-se de um animal que faz parte da fauna sinantrópica, que é facilmente atraído pela alimentação oferecida pelos humanos.
“Esses animais podem ser transmissores de doenças como criptococose e, por isso, cabe à administradora e ao síndico atuarem em conformidade com a lei, com o objetivo de impedir a proliferação dessa espécie no condomínio e, assim, proteger a saúde dos condôminos e de todos os que por ali transitam, preservando sempre o direito fundamental à vida desses animais.”
Ainda segundo Camila, essa responsabilidade não cabe apenas aos gestores dos condomínios, pois a colaboração de todos os condôminos é importante. Assim, medidas preventivas devem ser tomadas no sentido de manter as áreas comuns e privativas sempre limpas.
Os condôminos devem ser orientados sobre os possíveis problemas causados pelos pombos, por exemplo, riscos à saúde e danos materiais, e a importância do controle populacional dessas aves.
Seguem algumas dicas para minimizar a presença de pombos no condomínio:
- Mantenha as áreas comuns do condomínio, especialmente onde houver concentração de pombos, limpas e livres de restos de alimentos;
- Oriente os condôminos a não alimentarem as aves;
- Evite manter vasilhas com alimentos e água para outras aves, porque os comedouros/bebedouros podem também atrair pombos e ratos;
- Deve-se observar, nas áreas autônomas, os pontos de abrigo para, então, aplicar as medidas corretivas necessárias, como a colocação de telas ou o fechamento dos locais de reprodução;
- Entre em contato com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-RIO), diante de casos mais graves, para orientações e eventuais medidas de controle necessárias.
A advogada informa ainda que todas as medidas tomadas para evitar a aglomeração dos pombos nos condomínios devem estar de acordo com a Lei de Crimes contra a Fauna (Lei nº 9.605/98), que considera crime condutas como matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.
“Ademais, conforme a Instrução Normativa nº 141, do Ibama, de 19 de dezembro de 2006, o controle populacional de pombos é permitido, desde que ocorra de forma a não causar maus-tratos e eliminação do animal. Assim, no intuito de se garantir o direito à saúde humana, ambiental e animal, deve-se evitar a aglomeração dessas aves em condomínios, mas preservar, sempre, a fauna sinantrópica”, finaliza Camila.
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