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O caminho passa por novos centros

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Da maneira descompassada como o Rio cresceu, diariamente cerca de dois milhões pessoas – o equivalente ao público do réveillon de Copacabana -se deslocam dos subúrbios e da periferia metropolitana para o chamado hipercentro da cidade, onde se concentram serviços e ofertas de emprego. Obra alguma, dizem especialistas, atenderia satisfatoriamente a tamanha demanda. Por essa razão, têm entrado em cena propostas de mudanças no padrão da ocupação urbana para promover impactos na mobilidade.

A cidade “3D” (distante, dispersa e desconectada) precisa ser revertida num modelo “3C” (compacta, conectada e coordenada), afirma Nívea Oppermann, vice-diretora do Programa Cidades da instituição WRI Brasil. E um dos métodos para alcançar esse objetivo, diz ela, é o Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), um dos conceitos que orientamoPlanoEstratégicodeDesenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Rio (PDUI).

– Nessa dinâmica, é preciso ocupar vazios existentes na metrópole, conter a expansão de novas áreas e revitalizar as degradadas – diz Nívea.

CRESCIMENTO DESENFREADO

Entre os elementos do DOTS, explica a especialista, está o incentivo a múltiplas centralidades na cidade, para que as pessoas tenham oportunidades de trabalho, estudo e lazer mais perto de casa, com objetivo de diminuir os deslocamentos. E, quando for necessário o uso do transporte, ele precisa ser de qualidade, ao passo que se deve forçar o uso racional do automóvel.

Hoje, devido à concentração da atividade econômica na capital, 68% dos trabalhadores na Região Metropolitana precisam se deslocar para o município do Rio, segundo o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). A região é formada por 21 municípios, incluindo a capital. Ainda que a Linha 3 do metrô (ligando Itaboraí a Niterói) tivesse saído do papel, diz Luiz Firmino, superintendente da Câmara Metropolitana, um morador de Itaboraí, por exemplo, levaria mais de uma hora para chegar ao Centro do Rio. Apesar disso, ressalta ele, a metrópole continua se expandindo 32 quilômetros quadrados ao ano, principalmente em suas pontas mais periféricas, dificultando a oferta de serviços e infraestrutura.

A nova lógica proposta visa a reforçar a centralidade de outros polos, além do Centro do Rio. Na capital, devem ser estimuladas áreas como Campo Grande e Madureira. No Leste Fluminense, diz Firmino, se fortaleceria, principalmente, a região de Alcântara, em São Gonçalo. E, na Baixada, Duque de Caxias e Nova Iguaçu devem ser alçados ao protagonismo.

 

CORREÇÃO DE RUMOS

A ideia é que bairros com grande número de imóveis ociosos às margens das linhas de trem tenham atenção. Além de criar mecanismos para ocupá-los, o plano é melhorar o acesso deles às estações ferroviárias, com a construção de calçadas, ciclovias e bicicletários.

Atualmente, porém, se uma pessoa está em Nova Iguaçu e pretende ir para Caxias num transporte de alta capacidade, terá de pegar um trem até São Cristóvão, mudar para o ramal de Gramacho e, só depois de toda essa volta, chegar ao destino. Corrigir incoerências como essas também fazem parte da transformação sugerida.

– A maior parte das linhas de trem e vias expressas é de radiais: vêm da periferia, de municípios que viraram cidades-dormitórios, em direção ao Centro do Rio. Precisamos criar corredores transversais, como entre Nova Iguaçu e Duque de Caxias. As ligações devem ser feitas por transportes de média ou alta capacidade, como BRT, VLT, trem e metrô – diz Firmino.

Hoje, os BRTs Transcarioca (Galeão-Barra) e Transolímpico (Deodoro-Recreio) são alguns dos poucos exemplos desses corredores transversais.

-Nesse sentido, são propostas, por exemplo, ligações às margens do Rio Sarapuí ou na antiga Estrada de Madureira, na Baixada, bem como outras atravessando São Gonçalo – ressalta o superintendente.

A velha promessa de tirar do papel a Linha 3 do metrô voltaria a ser prioridade. E o trem seria estendido de Santa Cruz até Itaguaí. Estratégias, diz Firmino, que ajudariam ainda a comedir mais um dado revelador: de tudo que foi construído nos últimos dez anos na Região Metropolitana, 40% foram destinados a garagens para carros, embora persista um enorme déficit de moradias no Rio.

 

Fonte: O Globo

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